Na última semana, o Ministério Público Eleitoral da 26ª Zona Eleitoral do Ceará deu um passo importante — e corajoso — ao recomendar a cassação dos mandatos do prefeito de Abaiara, Ângelo Furtado Sampaio, do vice-prefeito Ricardo Leite de Figueiredo e do vereador João Sampaio Martins Neto. A denúncia? Compra de votos e abuso de poder econômico nas eleições de 2024.
Não é apenas um parecer. É um grito de alerta. Um basta às velhas práticas que ainda resistem em muitas cidades do interior nordestino, onde a política se confunde com balcão de negócios e a dignidade do eleitor é barganhada por favores, promessas ou uns poucos reais.
A promotora Thaís Moutelik foi clara ao afirmar que há "robustas provas" nos autos. E quando o Ministério Público fala com essa firmeza, é sinal de que o jogo foi pesado. Dinheiro, influência e estruturas públicas supostamente usados para desequilibrar uma disputa que deveria ser democrática e justa.
O que aconteceu em Abaiara, se confirmado pela Justiça, não é um caso isolado. É o retrato de um sistema viciado, que se retroalimenta da miséria e da falta de informação. Onde políticos usam o poder econômico não para governar, mas para garantir a manutenção do próprio poder — custe o que custar.
E no fim, quem paga essa conta é o povo. É o estudante sem merenda, o paciente sem médico, a estrada esburacada, o servidor sem salário. A compra de votos é o primeiro ato de um governo ilegítimo. O resto é consequência.
A Justiça Eleitoral agora tem nas mãos a responsabilidade de dar uma resposta à altura. Não basta cassar. É preciso dar o exemplo. Mostrar que Abaiara, como qualquer outra cidade, não está à margem da lei. Que o sertão não é terra sem dono — nem sem juízo.
Que essa ação sirva de aviso: democracia não está à venda. E quem tentar comprá-la, precisa ser cobrado — com juros e correção moral.