Enquanto comunidades inteiras enfrentam a precariedade na saúde, educação e infraestrutura, prefeitos em diversas cidades do Nordeste seguem protagonizando um cenário de criminalidade institucionalizada. A corrupção em larga escala, travestida de atos administrativos, transformou prefeituras em verdadeiras fábricas de esquemas ilegais, alimentadas por fraudes em licitações, empresas de fachada, e uma rede de favorecimentos que afronta, sem qualquer pudor, o interesse público.
Um dos exemplos mais recentes e emblemáticos dessa engrenagem de desvios foi revelado nesta quarta-feira (7), quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Virulência, voltada ao desmonte de um esquema de fraudes na Prefeitura de Camaçari, na Bahia. A investigação aponta que, em 2020, no auge da pandemia da COVID-19, recursos milionários destinados ao combate à crise sanitária foram utilizados para beneficiar empresas ligadas a um conluio criminoso.
Segundo a PF, houve manipulação na dispensa de licitação que contratou uma entidade para reformar unidades de saúde, implantar um hospital de campanha e fornecer insumos médicos. Embora a contratação tenha sido direcionada, os serviços foram, na prática, terceirizados a outras empresas – manobra que encobriu um superfaturamento de R$ 1,4 milhão, correspondente a 26% do valor pago, que ultrapassou os R$ 5,6 milhões.
Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão e sequestro de bens nas cidades de Salvador e Camaçari, totalizando cerca de R$ 2,1 milhões bloqueados por ordem da Justiça Federal. Os investigados poderão responder por fraude em licitação, peculato, corrupção ativa e organização criminosa.
Sertão da Paraíba: O Próximo Alvo
Fontes do Espião do Sertão revelam que um esquema semelhante e de proporções ainda maiores, estaria sendo investigado no interior da Paraíba. Prefeituras do Sertão vêm repetindo a mesma cartilha criminosa: dispensa de licitações emergenciais, contratações direcionadas, uso de empresas “laranjas” e superfaturamento de contratos públicos, especialmente em áreas sensíveis como saúde, eventos e infraestrutura.
Nos bastidores da repressão federal, já há expectativa de uma nova operação de grande porte na região. Dossiês com provas robustas circulam entre órgãos de controle como o Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU). A lógica, no entanto, é a mesma: utilizar o poder da caneta para enriquecer aliados políticos, empresas amigas e, não raro, os próprios gestores.
Cultura da Impunidade: Prefeitos sem Medo
O que mais impressiona, e revolta é a sensação de impunidade permanente que rege essa engrenagem criminosa. Poucos prefeitos são punidos. Mesmo quando são alvos de operações, seguem no poder ou se reelegem com o apoio de grupos políticos influentes e campanhas milionárias. Enquanto isso, o povo assiste, impotente, à dilapidação dos cofres públicos.
Na prática, muitas gestões municipais tratam o orçamento público como um caixa particular, reforçando uma cultura de saque institucionalizado. E o que poderia ser exceção, parece cada vez mais regra em centenas de municípios nordestinos.
Conclusão
A corrupção nas prefeituras do Nordeste, sobretudo no Sertão, não é apenas um desvio de conduta. É um projeto de poder sustentado por mecanismos que burlam a legalidade, zombam da fiscalização e ignoram o sofrimento das populações mais vulneráveis. Casos como o de Camaçari revelam que, em muitos gabinetes, o crime se veste de gestor público. E enquanto o Estado não agir com firmeza, novas “operações virulência” seguirão sendo necessárias, mas nunca suficientes.