O silêncio da madrugada foi rompido pelo grito da dor. Uma tragédia sem precedentes atingiu em cheio o coração do povo sertanejo na noite desta terça-feira (13), quando uma van que partira da sofrida e resistente região do Cariri se envolveu num grave acidente com uma carreta na BR-251, na altura do Distrito de Barrocão, município de Grão Mogol, em Minas Gerais.
A van transportava 17 sonhos, todos empacotados com esperança e coragem. Trabalhadores, mães, pais, filhos, irmãos, pessoas humildes que deixavam suas raízes, suas casas, sua terra, para lutar por uma vida melhor em terras mineiras. Mas a viagem foi interrompida por um destino cruel e injusto: nove vidas ceifadas ali mesmo, entre os escombros de um asfalto ensanguentado. Oito adultos e uma criança, um anjinho que nem sequer teve tempo de entender o mundo, morreram na hora, presos às ferragens.
Entre os mortos, o motorista identificado apenas como “Marcos”, um homem conhecido no Cariri, dono da empresa Barro Tur, que tantas vezes transportou conterrâneos com zelo e responsabilidade. Ele partiu como tantos outros: trabalhando. Partiu na direção de um Brasil que insiste em exigir sacrifícios dos que menos têm.
Outras dez pessoas ficaram feridas, incluindo duas que viajavam na carreta, que seguia no sentido Bahia/Montes Claros. O impacto foi devastador. Quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local, encontrou corpos retorcidos, pessoas clamando por socorro, e a dor espalhada como uma nuvem escura sobre o sertão.
Uma menina de apenas 8 anos sobreviveu, ferida, mas estável. Está internada na Santa Casa de Montes Claros, junto a outras vítimas. Um homem de 27 anos luta pela vida, respirando com ajuda de aparelhos. Cada um dos sobreviventes carrega agora não apenas as marcas no corpo, mas feridas invisíveis que o tempo talvez nunca cure.
A BR-251 ficou interditada até as 3h30 da madrugada. O trânsito parou, mas o tempo também. O relógio do sertão parece ter congelado na hora da tragédia. Nas casas de onde partiram esses trabalhadores, há luto, velas acesas, preces baixas e um silêncio pesado demais para ser suportado.
O Cariri amanheceu mais pobre, mais triste, mais vazio. O sertão, esse chão castigado pela seca, mas abençoado por gente guerreira, perdeu seus filhos numa estrada que é espelho da desigualdade e do abandono. Eles buscavam dignidade. Receberam a morte.
Hoje, choramos juntos. E enquanto não soubermos os nomes, chamamos cada vítima de irmão, de pai, de filha, de vizinho. Porque é isso que são. Porque é isso que dói.
Luto. Dor. Revolta. E a eterna pergunta: até quando?